domingo, 29 de março de 2009

Tia Luciana Hikawa (aka Tia Batata) levantou a bola e eu corto, porque é um tema que me interessa, apesar da hipocrisia reinante que acha um absurdo falar abertamente do caso.
Nas últimas semanas a mídia tem divulgado várias notícias com a prisão de pedófilos e abusadores sexuais, e esse fenômeno merece atenção.
Existe diferença ente o pedófilo e o abusador sexual. O pedófilo tem atração por crianças pré-púberes, ou seja, meninos e meninas de até 12 anos, com caracteres sexuais ainda não completamente desenvolvidos. Em resumo, o pedófilo gosta de crianças, e se excita muito com imagens, fotos e vídeos.
Já "abusador sexual", em um conceito mais amplo, pode cometer o abuso contra crianças e adolescentes, com ou sem uso de violência. Pode ser alguém do núcleo familiar ou de confiança (incesto) ou um estranho.
A atenção que a mídia vem dado a estes casos, desencadeada pelo caso da menina de 9 anos do Nordeste, grávida do padrasto, é benéfica, na minha opinião, já que poderá diminuir a sensação de impunidade desses casos.
Em cerca de 1 ano e meio trabalhados em um programa de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, o que pude perceber que a impunidade é alimentada pela falta de coragem em denunciar. Quando o abusador é do núcleo famíliar, na esmagadora maioria das vezes é ele o provedor financeiro, e a família (em geral, a mãe) tem receio de perder as vantagens financeiras que aquela pessoa proporciona, ainda que estas vantagens sejam apenas a subsistência. Em outros casos, a dependência é emocional, e do mesmo jeito, impede a denúncia, e consequentemente a punição.
A punição do agressor é muito difícil, principalmente nos casos em que o abuso não causa lesões físicas, como por exemplo os casos de abusos consumados através de toques, apalpação, masturbação e sexo oral, além de exposição a cenas com conteúdo sexual (exibição de filmes e revistas pornográficas).
O abusador incestuoso, que faz parte das relações de confiança, é alguém que "come pelas beiradas". Inicia o abuso aos poucos, ganhando a confiança da vítima. Quando uma criança está exposta a este tipo de agressor, é difícil que ela tenha forças suficientes para evitar sozinha o abuso. Contudo, a informação e a orientação clara e precisa sobre o que é ou não permitido em relação ao próprio corpo mostra à criança que certos tipos de atitudes do abusador não são corretas, e a deixam fortes para contar a alguém que a situação está acontecendo, evitando danos maiores.
A chave, a meu ver, é a informação. Só a denúncia pode punir esses desajustados, que não merecem, definitivamente, estar inseridos na sociedade.

Um comentário:

LuMa disse...

Em base à distinção que vc esclarece, me faz temer muito mais do abusador no âmbito familiar, que do primeiro caso, por criar um turbilhão de sentimentos de amor e ódio na vítima. Além do abusador ser quase sempre o provedor financeiro, provavelmente a criança deve temer os efeitos desastrosos que a denúncia possa causar sobre outros membros da família(sobretudo com a mãe). Creio que a dependência emocional nasça justamente aí, no medo entre perder a família ou suportar sozinha a "responsabilidade" de mantê-la em pé. Se torna vítima e cúmplice do carrasco. É triste, não?