terça-feira, 9 de junho de 2009

A Cynthia, do CynCity, levantou uma questão interessante a respeito da religiosidade nos dias de hoje. Na verdade, sobre a imposição da religiosidade nos dias de hoje. Eu sei que o assunto é espinhoso, os trolls podem aparecer, mas eu tenho uma opinião sobre o assunto e quero divir com os meus 2 ou 3 leitores.
Eu acho que a religiosidade, e a maneira como você se manifesta em relação a isso, são as coisas mais individuais e particulares da sua personalidade, seguida, de pertinho, pela sexualidade. E, como esta última, é uma das muitas características que te compõem como indivíduo. Você não é só a religião que você professa, bem como você não é só a sexualidade que você exerce. A partir do momento que a religiosidade (assim como a sexualidade, já que tenho entendimento semelhante acerca dos dois) ultrapassa as fronteiras da sua convicção pessoal e passa a ser um ato de agressão às convicções de terceiros, é sinal de que aquela característica deixou de fazer parte da sua personalidade para tomar conta da sua vida.
Hoje, é muito comum você ver nas embalagens de produtos de consumo comuns, como a Cynthia mencionou lá no blog dela, ostentando frases como "Deus é fiel", ou mesmo versículos da Bíblia. Eu me pergunto se quem mandou colocar essas frases pensou que pode ter um cliente ou consumidor final que não tem religião, ou que professa uma fé diversa e antagônica a essa, e me pergunto também se pensou na possibilidade de criar rejeição e antipatia com esse destinatário do seu produto. Acho que não. Nunca vi um ateu colocar num produto (comercial, não artístico) que criou "Eu não acredito em deus".
Hoje, ao contrário do que era há 20 anos, não basta sentir-se em comunhão com determinada comunidade religiosa. É necessário expor essa convicção e, no pior dos casos, até mesmo impor. Eu não gosto disso.
Lá no Findumundistão, onde morei antes de Belorizonte, uma parte das pessoas que conheci Me olhou como se eu tivesse 3 cabeças, quando dizia que não participava da mesma denominação religiosa que eles. Na verdade, eu me senti muitas vezes um peixe fora d'água quando dizia que era (e sou) católica. Era como se eu estivesse ofendendo as pessoas que professam a fé na doutrina protestante. Muito ruim.
Tenho grandes amigos protestantes (me desculpem, mas não uso a denominação "evangélico"), assim como conheço e amo pessoas que seguem a doutrina espírita. Conheço ateus, agnósticos e admiro pessoas (que não conheço pessoalmente) que praticam religiões afrobrasileiras. Em todas essas pessoas, além do carisma individual e da empatia que existe entre nós, uma das coisas que me agradam é o respeito pelas convicções dos outros. Não posso admirar quem tenta impor uma crença religiosa ou critica quem crê em algo diferente da sua própria crença.
Enfim, eu acredito que a essência de toda crença religiosa é amor pelas pessoas; esse é o mandamento principal. De outro lado, quem optou por desacreditar disso tudo (e pensando bem, faz o maior sentido, já que as religiões no geral prometem coisas que você geralmente não consegue ver ou sentir), é porque tem convicção dentro de si de que não precisa daquilo para a sua vida. Então, não vejo porque a imposição de algo pode ser um ato de amor ou de racionalidade. Há um contrassenso e isso está na moda hoje.
Bem, a questão está aí. Opiniões são bem vindas.

2 comentários:

LuMa disse...

Como indivíduos, todos são livres de professar a fé que desejar, desde que mantenham respeito pelas convicções alheias. A fraternidade ou solidariedade (que se resumem em amor pelas pessoas)não são necessariamente prerrogativas de religiosidade e de religiosos, mas tbém da racionalidade que herdamos dos filósofos(Sócrates, Platão, etc) durante toda a evolução da sociedade até chegarmos aquí. (Não fosse o amor, não haveria a democracia).

A questão é qdo a religião se materializa em instituição, e esta interfere através do Estado, com o poder de influenciar a vida de um comum cidadão. Basta ver os Estados teocráticos que (ainda) resistem por aí, ou lembrar que até poucas décadas atrás, não se permitia nem menos o divórcio no Brasil, apenas para dar um exemplo banal.

Aquí onde vivo, conheço muitos que debatem, protestam e manifestam críticas ferrenhas contra o poder do Vaticano e sua direta influência política no país, sem deixar a própria fé como católicos. Estes acreditam que a fé é uma coisa, religiosidade, outra e por fim, instituição é outra coisa ainda. O que se ouve nos seus protestos é que as leis que regem um país devam ser laicos, pois todos os cidadãos são indivíduos, acima de tudo. O papo vai longe, e o que queria mesmo dizer é que vc esclareceu de modo exemplar a sua postura, com equilíbrio e respeito de poucos. Beijos!

Adrina disse...

Oi, LuMa, fazia tempo que eu queria escrever sobre isso. Obrigada pela opinião. A sua, que vive na Itália, é muito realista!