quinta-feira, 29 de abril de 2010

Eu tinha decidido deixar esse blog dar um cochilo; ficar um tempo sem postar para tentar pôr a minha vida e a minha cabeça no lugar. Tive 2 ou 3 manifestações de leitores, mas eu ainda estava pensando sinceramente em deixar as coisas paradas até dar vontade de escrever de novo.
Bom, aí eu li uma notícia que me deixou pensativa e triste. Não revoltada, nem enlouquecida. Triste. Também com raiva, porque é inevitável. Tá bom, eu fiquei louca de raiva. Pensei em algumas coisas e vou colocar aqui, para que comentem ou não, reflitam ou não.
Eu acho que a adoção, além de um ato de coragem, é um ato de enorme amor. Você, por motivos sociais, afetivos ou biológicos, decide ir adotar uma criança. Passa por todo o processo burocrático e escolhe ser pai ou mãe (ou ambos) de alguém que foi abandonado pelos pais ou retirado da convivência deles por motivos diversos. Lembro que a estatística diz que no Brasil são adotadas meninas brancas recém-nascidas. Meninos e meninas negras, maiores de 7 anos, ficam nos orfanatos até a maioridade, quando são convidados a ir procurar a sua vida, sozinhos.
Você passa por todo o procedimento burocrático, contrata um advogado, ganha o direito de ter a guarda provisória de uma criança e depois tem a oportunidade de ser o pai ou a mãe daquele guri, que antes de você aparecer estava num abrigo ou orfanato, com muitas outras crianças na mesma situação, ou que acabou de ser abandonado no hospital por alguma mulher desesperada pela falta de perspectiva diante da vida e com uma criança possivelmente indesejada na barriga, mas que não foi corajosa o suficiente (ou não teve sucesso) para fazer um aborto, nem abandonar em um terreno baldio, ou jogar dentro de um rio.
Muito bem. Você passa por isso tudo e, quando leva a criança já tão sofrida para dentro da sua casa, você faz isso com ela. Meu caro, minha casa, sabe o que eu penso de você? Eu penso que você é um ser despezível, mesquinho, asqueroso. Penso que você é alguém que merece viver longamente, para que passe o resto dos seus dias afogado em remorsos, cercado de fantasmas que o assombrem como um dementador, sugando toda a sua vida aos poucos. Eu desejo que você, que tira uma criança de um orfanato só para espancá-la e maltratá-la, viva mais 90 anos sozinho, afogado em mágoas e desespero, sentindo em cada célula do seu corpo uma dor inexplicável, sem remédio nem anestesia, que faça com que você deseje a morte, mas sem sucesso até que, quando ela chegar, seja tão lenta e dolorosa que você se arrependa por toda a eternidade por fazer uma criança sofrer. Uma criança que já apanhou e sofreu, que leva nas costas a dor de ter sido concebida de forma irresponsável, ou de ter sido abandonada por miséria, fome ou tristeza.
Cara, não me conta que alguém cometeu um ato covarde contra uma criança que eu fico com muita, mas muita raiva.

Nenhum comentário: