domingo, 20 de junho de 2010

Agora há pouquinho eu e a Érika (@inquietudine) travamos uma conversa (bem, o que pode ser compreendido como conversa em 140 caracteres) pelo twitter acerca do Estatuto da Igualdade Racial. Papo de alto nível, lógico, porque a Érika entende tudo e mais um pouco de Direitos Humanos.
Antes de mais nada, tenho que dizer que respeito muitíssimo a questão do racismo e todas as outras questões de preconceito: homofobia, sexismo, violência contra a mulher e a criança, intolerância religiosa; todas estas questões são muito importantes e envolvem direitos intrínsecos do ser humano. Todavia, pelo que vi em pouco tempo de trabalho na área de ação social, o maior problema do país não é racismo, é pobreza mas que, vamos esclarecer, não impede que estas outras questões sejam amplamente discutidas.
Eu não acho que o dito Estatuto vai solucionar o problema da desigualdade no Brasil. Temos aqui, segundo o IBGE, 6% de negros e 41% de mestiços; fora isso, temos uma quantidade imensurável de pessoas que não são nem classificáveis em termos de "cor" ou "raça", porque somos muito, muito, muito misturados.
A pobreza impede que o cidadão tenha escolas com educação de verdade, porque a educação pública está sucateada, com professores mal preparados, mal remunerados e sem segurança, impedindo que crianças pobres cheguem à universidade pública.
A pobreza não dá ao cidadão um serviço de saúde decente, pois os hospitais são insuficientes; não há médicos, enfermeiros, biomédicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais em quantidade sucifiente para atender a todos. Uma cirurgia ortopédica simples pelo SUS tem fila de espera de 3 anos na maior parte do país.
A pobreza impede que o cidadão tenha moradia decente e ele se amontoa nas favelas, em cima de lixões, em moradias sem banheiro, sem água tratada, sem sistemas de esgoto, sem quartos e camas suficientes que respeitem a privacidade e intimidade dos moradores.
A pobreza, meus caros, afasta do cidadão do acesso à justiça e, pasmem, o pobre precisa da defensoria pública ofertada pelo Estado para, na imensa maioria das vezes, processar o próprio Estado, que lhe nega o básico que a Constituição e as Leis prevêem.
A pobreza, amigos, impele os idosos às mendicância, depois de uma longa vida de trabalho pesado.
Olha, gente, desculpa aí, mas o problema imediato do país, o NOSSO problema (sim, meu, seu e do Estado, governado por quem colocamos lá) é a POBREZA. A pobreza nivela todos por baixo; coloca o branco, o negro e o índio no bolo da ausência de dignidade.
Penso que a diminuição das desigualdades sociais vai dar ao negro (e também ao branco pobre e ao índio indigente) condições muito melhores de educação, saúde e moradia; a lei que afirma que isso é direito do afro-descendente esquece que a Constituição já diz, desde 1988, que tudo isso é direito de todos, sem exceção.

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