domingo, 22 de agosto de 2010

Num período da minha vida, moramos numa casa muito grande, com uma área de festas e churrasqueira. Ironicamente, só fizemos uma única festa lá. Foi na despedida do meu primo-irmão, quando se mudou do ES para MG.
Eu me lembro daquele dia com muito carinho, e algumas lágrimas nos olhos também. Fiz uma torta de frango e requeijão, clássico familiar, embora a minha mãe se esforçasse ao máximo para denegrir meu ainda iniciante talento culinário.
Minha onipresente tia M. veio da cidade dela para nos ajudar com o "evento", que teve o impagável episódio da lona... tenhoque contar porque é ótimo. Meu queridíssimo e amado tio Dilson, o pai que eu não tive (mas que depois se tornou pai, até me levou para o altar quando casei) e que o Deus que Nele creio levou para Si tão cedo, previu que naquele sábado de fevereiro ia chover. Região de montanha no ES, Lálongistão é quente e úmido, como é o estado todo. Decidimos, então, colocar uma lona na área próxima à churrasqueira, no caminho entre a dita cuja e a garagem, para que ninguém ficasse molhado.
Passamos a tarde toda brigando com a lona, bem castigada pelos pedreiros que construíram a casa, mas, mesmo meio capenga, a dita ficou no lugar. Lógico que Murphy é rei e depois de todo o trabalho, as nuvens de chuva simplesmente foram embora. Risadas e risadas, eu e o meu querido tio só balançamos a cabeça.
Chegou a hora da festa. Tios, primos, alguns amigos, violão, piadas, muitas risadas. Churrasco, torta de frango. Risadas. De repente, a chuva desceu. Eu e o tio, gloriosos embaixo da lona, só sorríamos: eu, debochada, no alto dos meus 17 anos, falava pelos cotovelos e ele, daquele jeito que só ele tinha, sorria com o canto da boca. Como fomos felizes naquele dia.
Esse episódio ocorreu há mais de 10 anos mas ainda está bem firme na minah cabeça. Depois ao dele, passamos períodos de muita angústia, muitas lágrimas, mas acho que a minha memória não me trairá e não permitirá que eu esqueça.
Meu lindo tio, meu "pai preto", como ele se entitulava, nos deixou em 2006, vítima de um infarto idiota que nos privou daquele sorriso contido, daquela ironia finíssima. Merda de saudade.

2 comentários:

Hugo Avelar disse...

"Merda de saudade".
AMO o seu blog Adrina. Incrivelmente cê escreve o que estou sentindo no dia e essa frase resume absolutamente tudo que estão sendo esses últimos dias na minha vida.
Obrigado por escrever aqui, isso me faz muito bem!

Tatáus disse...

Eu tenho saudade de gente que eu nem tive na vida. :(