sábado, 23 de janeiro de 2010

Ontem, para minha decepção extrema, ouvi de uma pessoa muito próxima que a mulher que foi assassinada covardemente pelo ex-marido "fez por merecer" e que "tinha cara de piranha". Doeu por ter vindo de alguém da família, doeu pelo absurdo do raciocínio machista, mas doeu mais ainda por ter vindo de outra mulher.
Acredito que a luta pelo fim da violência de gênero ainda está só no começo. O pensamento patriarcal, anacrônico e machista está infiltrado na formação da sociedade. Será preciso mais 4 ou 5 gerações para que essa macha social possa ser arraigada.
Talvez o que me preocupe mais, neste momento, nem seja o ímpeto violento dos que batem, ofendem e matam, mas o conformismo diante de tal situação. Quando alguém me diz que uma mulher covardemente assassinada com 7 tiros à queima-roupa por um ex-marido ciumento, possessivo e desequilibrado "tinha cara de piranha", e que "fez por merecer" ser morta desta forma, eu vejo 100 anos de lutas irem embora pelo ralo. Vejo o trabalho de muitas mulheres, ilustres e anônimas, que há tempos vem tentando se livrar da pecha de "objeto" e "propriedade" de alguém ser apagado, como se nunca tivesse existido.
Muita coisa perde o sentido, para mim, quando ouço argumentos como esses. O mundo fica um pouquinho mais cinza.

4 comentários:

Tata disse...

Olha, nem tenho palavras. Nem tenho.

LuMa disse...

É a cultura do corpo e pelo corpo. Chego a pensar que quem alimenta o machismo seja a própria mulher. Basta pensar nas piadas que rolam sobre mulheres (e gays)até em ambientes de nível médio...

Daniel Caetano disse...

Infelizmente, esse pensamento tosco permeia muitas rodas... e posso dizer que, infelizmente, minha família não é excessão. :(

cks disse...

Sempre achei que o preconceito e machismo parte, primeiramente, das mulheres. Por inveja, ignorância, não sei.
Se ela era piranha, ele poderia ter se separado, ter deixado a sujeita sem um tostão, sei lá. Mas, matar?
Um erro não justifica o outro. Ainda mais, esse.